No imaginário reino de Avilan, o povo miserável vive às voltas com governantes corruptos, sucessivos planos econômicos, moeda desvalorizada e altos impostos. Com a morte do rei Petrus II (Gianfrancesco Guarnieri) – cujo único herdeiro é o filho bastardo Jean Pierre (Edson Celulari) –, os conselheiros reais, que exercem forte influência nas decisões da rainha Valentine (Tereza Rachel), resolvem entregar a coroa ao mendigo Pichot (Tato Gabus Mendes). A armação é obra de Ravengar (Antônio Abujamra), o bruxo do condado. Revoltado, Jean Pierre lidera um grupo de revolucionários para derrubar os vilões. Em meio aos conflitos, a princesa Juliette (Cláudia Abreu) se apaixona por Pichot.
Humor e originalidade marcaram a novela, que tinha como um dos núcleos cômicos os conselheiros do reino – uma crítica bem-humorada ao Congresso Nacional. Eram eles: Gaston Marny (Oswaldo Loureiro), o conselheiro das Armas; Bidet Lambert (John Herbert), conselheiro dos Mares num país que não fazia fronteira com mar algum; Bergeron Bouchet (Daniel Filho), conselheiro da Moeda; Vanoli Berval, conselheiro do Rei; Crespy Aubriet (Carlos Augusto Strazzer), conselheiro do Trabalho; Gerard Laugier (Laerte Morrone), conselheiro da Alimentação. Nada funcionava direito em Avilan, nem mesmo a guilhotina, importada da Alemanha a peso de ouro, e que só não falhara nos testes.
Apesar de ambientada no século XVIII, a novela fazia referências à contemporaneidade, e explorou temas da realidade brasileira à época de sua exibição. Em alusão ao Plano Cruzado, pacote econômico lançado pelo governo em 1986 e que envolveu congelamento de preços e mudança da moeda nacional, o autor incluiu na trama uma reforma monetária, trocando o nome da moeda de Avilan de caduco para duca, e tirando três zeros do seu valor. Além disso, os nobres do palácio podiam ser vistos dançando samba, enquanto Juliette surpreendia a corte vestindo minissaia. Em determinado momento da trama, o conselheiro Crespy sugere que se acabe com os postos de pedágio nas estradas de Avilan, substituindo-os por selos que seriam comprados mensalmente e colocados na testa dos cavalos, numa alusão aos selos-pedágios que existiram no Brasil naquela época. Segundo o diretor Jorge Fernando, foi a partir dessa cena exibida pela novela que as pessoas começaram a perceber a relação direta que existia entre a fictícia Avilan e o Brasil.
Contando com um elenco de primeira, Que Rei Sou Eu? teve grandes interpretações, como a de Marieta Severo, no papel da feminista Madeleine Bouchet; Stênio Garcia, que se destacou como Corcoran, o bobo da corte que fazia jogo duplo, atuando a favor dos revolucionários; Tereza Rachel, com a inesquecível caracterização da Rainha Valentine, que divertia a todos com suas gargalhadas agudas; e Antônio Abujamra como Ravengar, uma mistura de bruxo, médico, astrólogo e hipnotizador, com influência sem limites na corte. No final da história, depois do levante popular, Ravengar volta com o nome Richelieu Rasputin Golbery e oferece seus préstimos ao novo governo. Disfarçado de rebelde, ele coloca sua sabedoria à disposição do rei.
REI PETRUS II (Gianfrancesco Guarnieri) — Soberano do reino de Avilan, gravemente enfermo. Sabe que sua morte não demora e se diverte com a surpresa que sua mulher, a rainha Valentine (Tereza Rachel), terá quando descobrir os seus últimos desejos, guardados em um pequeno baú, além da revelação da existência de um filho bastardo, o verdadeiro herdeiro do trono. Pai de Juliette (Cláudia Abreu). Participação especial nos primeiros capítulos.
RAINHA VALENTINE (Tereza Raquel) — Mulher de forte personalidade, fria e calculista, mas completamente dominada por Ravengar (Antônio Abujamra), conselheiro mor do reino. Vê na morte do marido, o rei Petrus II (Gianfrancesco Guarnieri), a solução para sua vida, já que é completamente apaixonada por Bergeron (Daniel Filho), o conselheiro da Moeda, que não lhe dá a menor esperança – com o que ela não se conforma. Tem uma desagradável surpresa ao assumir o poder, após a morte de Petrus II. Mãe de Juliette (Cláudia Abreu).
PRINCESA JULIETTE (Cláudia Abreu) — Filha de Petrus II (Gianfrancesco Guarnieri) e Valentine (Tereza Rachel), doce criatura, nem parece filha dos dois. Bom caráter, meiga, mas firme quando percebe as jogadas da Corte. Não se conforma com a vida isolada dentro do palácio, e se preocupa com as injustiças praticadas contra os mais humildes.
JEAN PIERRE (Edson Celulari) — Filho bastardo de Petrus II (Gianfrancesco Guarnieri) com a jovem camponesa Maria Fromet (Tania Nardini/Aracy Balabanian). Jovem de ideias firmes e claras a respeito das desigualdades sociais. Agitador, não se conforma com o abismo entre as classes sociais e faz tudo, à sua maneira, para diminuí-lo. Ótimo caráter, valente e idealista.
ALINE (Giulia Gam) — Revolucionária do grupo de Jean Pierre (Edson Celulari), apaixonada por ele. Moça ativa, que ajuda na luta contra as injustiças. Passa a trabalhar na cozinha do palácio para saber o que acontece lá dentro. LOULOU LION (Ítala Nandi) — Comanda um grupo de jovens, que trabalham na sua taberna. Conhece uma parte do segredo do filho bastardo do rei, pois criou Jean Pierre (Edson Celulari) desde os 4 anos de idade. Tem grande influência sobre os frequentadores do local, sendo respeitada por todos que lá vão se divertir. Sua estalagem é a união entre os dois mundos sociais do reino, apesar dos dias alternados para receber nobres e pobres.
DENISE (Carla Daniel) — Moça da taberna. Garçonete jovem, que faz charme para os homens, mas não se interessa por nenhum deles. Participa de alguns segredos dos homens da corte. COZETTE (Desirée Vignolli) — Moça da taberna. Temperamento diferente de Denise (Carla Daniel): mais revoltada, não se conforma muito com a pobreza, e quer participar das atividades contra o reino. Por conveniência, engole muito sapo. Gosta do mendigo Pichot (Tato Gabus) e se preocupa com o seu desaparecimento.